O hino a
São João, "Ut queant laxis", composto no século
IX, por Paul Diacre Warnefrid (740 - 801)
Ut queant laxis Para que teus
fiéis
Resonare fibris Possam, com todas as
fibras
Mira gestorum De sua alma
Famuli tuorum Cantar as
maravilhas da vida
Solve polluti
Purifica seus lábios manchados
Labii reatum
De pecado
Sancte Iohannes Ó São João
...
e a pauta de quatro linhas criadas pelo
monge Hucbaldo (840 - 930); autor do tratado (De Harmonica Instituitone)
proporcionaram motivação para que Guido d'Arezzo (995 - 1050)
inventasse, no século XI, a pauta de onze linhas que mais tarde foi
dividida em três claves: clave de sol, clave de ut e clave de fá,
dando origem a escrita musical ocidental e também a pauta de cinco
linhas que hoje é mundialmente conhecida.
Segundo François - Xavier Chaboche
em seu livro Vie Et Mystère des Nombres, "Mouravieff (Gnôsis)
vê na escolha do nome das notas musicais uma intenção e um
significado esotéricos, em relação com uma cosmogonia - e
Guido d'Arezzo teria, nesse sentido, deliberadamente mudado ut em dó.
Desce-se, com efeito, na escala, como numa "escada" de Jacó,
simbolizando os degraus sucessivos da criação:
Dó por Dominus (Senhor): Deus absoluto manifestado, Sol central.
Si por Sidereus orbis: Céu estrelado, conjunto de todos os mundos.
Lá por Lacteus orbis: Nosso grande mundo, a Via Láctea.
Sol por Sol: Sol.
Fá por Fatum: Mundo planetário, ao qual a antiguidade
atribuía influência direta sobre o destino.
Mi por Mistus orbis: Terra, nosso mundo imperfeito colocado sob o
império do bem e do mal.
Ré por Regina astris: Lua, a regente da sorte humana segundo os
antigos".
Como fenômeno físico, o som
é resultado do movimento de um corpo qualquer que se desloca de um lado
para outro, formando ondas na matéria que o cerca. É o que
acontece, por exemplo, quando se faz vibrar uma corda de um viloão. A
frequência de vibração dessa corda pode ser maior ou menor
num dado intervalo de tempo.
Nem todas as frequências são
percebidas pelo ouvido humano, cuja capacidade de percepção
está entre 16 e 20.000 vibrações por segundo. Porém
alguns sons produzidos, são captados com maior clareza e
individualidade. Parecem ter uma posição particular dentro da
sequência, sendo mais agradáveis e equilibrados. Esses sons
privilegiaos são as notas, e sua ordenação sequencial
dentro de um sistema lógico chama-se escala musical.
Os aspectos: aritméticos e
algébricos; analógico, simbólico e hermético,
talvez sejam a maior contribuição da matemática para a
música. Podemos afirmar que a música, tal como a
matemática é bem ordenada.
O simbolismo numérico e as notas da
escala musical guardam uma relação que pode der notada, por
exemplo, ao se construir um isntrumento musical simples, enchendo recipientes
iguais com água ou entalhando tubos de acordo com as seguintes
proporções:
1
9/8 5/4 4/3 3/2 5/3 15/8 2
dó ré mi fá sol lá si dó
A escala que está na base da
música ocidental foi teorizada no começo do século XVI por
Gioseffo Zarlino, padre e compositor italiano.
A escala natural (ou de Zarlino) representa
os intervalos da forma seguinte:
Dó 9/8 Ré 10/9
Mi 16/15 Fá
9/8 Sol 10/9 Lá 9/8
Si 16/15 Dó
As frequências, em vibrações por segundo são:
Dó Ré Mi
Fá Sol
Lá Si
Dó
264 297 330 352 396
440 495 528
A frequência da nota ré
é sempre 9/8 da frequência do anterior, como a do do mi é
10/9 da frequência da do ré e assim por diante. A
repetição da nota que inicia a escala contitui uma oitava. Uma
nota uma oitava acima possui o dobro da vibrações por unidade de
tempo.
Entre as inúmeras escalas
existentes, encontramos a escala de Bach (escala temperada) caracterizada pela
igualdade de todos os intervalos: os semitons. Cada semiton é igual a 24
savarts. Savart é a unidade de medida acústica que originou do
físico Félix Savart, 1 savart é igual ao logarítmo
de 1/300 de oitava.
Outras relações podem ser exemplificadas:
dó # (dó sustenido) = dó + 1/2
ton.
ré b (ré bemol) = ré - 1/2 ton
etc...
A teoria musical e a matemática
devem guardar muitas outras relações, além das que foram
mencionadas neste texto. Caberia, portanto, uma pesquisa mais profunda e
detalhada para percebermos, talvez, que a razão e a emoção
caminham juntas numa peseudo-paraconsistência, matemática e
música.
Bibliografia:
1. Chaboche, François-Xavier; Vida e Mistério dos Números, Hemus Editora Limitada, São Paulo - SP, 1976
2. Ifrah, Georges; Os Números a história de uma grande invenção, Editora Globo S.A., São Paulo - SP, 1992
3. Boyer, Carl B.; História da Matemática, Editora Edgard
Blücher Ltda, São Paulo - SP, 1974.
4. Davis, J. Philip e Hersh, Reuben; A Experiência Matemática, Livraria Francisco Alves Editora S.A., Rio de Janeiro - RJ, 1976